Quantcast
Viewing latest article 2
Browse Latest Browse All 2

Imperial

Um painel com fotos que quase se perdeu no tempo, foi recuperado e enfeita a varanda da minha casa. Para quem não me conhece é um cartão de visitas. Um currículo resumido, um pedaço da minha história e dos amigos, tão marcante que usei para a capa do meu livro “A Verdade é a Melhor Notícia”. Entre tantas fotos, uma sempre atrai olhares. Talvez por estar no alto, por ter sido feita por um bom profissional que nem recordo o nome, mas com referências importantes da cultura nacional. Esta foi a tônica da conversa de hoje no café da manhã com meu hóspede poeta mineiro, sobre quantas historias apenas em uma imagem. Acontece que quando vejo este retrato a memória se aviva de tal forma que sou capaz de sentir a temperatura daquela noite de verão de 1974.

Image may be NSFW.
Clik here to view.
Da esq para a direita: Chico Anysio, Milton Moraes, Jorge Doria, Paulo Pontes, Plínio Marcos e Juca de Oliveira. Embaixo Tetê Nahaz, Fernanda Montenegro, Terezinha Sodré, eu, Cidinha Campos e Eva Wilma.

Da esq para a direita: Chico Anysio, Milton Moraes, Jorge Doria, Paulo Pontes, Plínio Marcos e Juca de Oliveira. Embaixo Tetê Nahaz, Fernanda Montenegro, Terezinha Sodré, eu, Cidinha Campos e Eva Wilma.

Eu tinha 25 anos, um filho com pouco mais de 1 ano e uma separação recente. Muitas responsabilidades e a vontade de viver todas as irresponsabilidades, pesando na mesma balança. O vestido vermelho era novo, comprado para a festa de aniversário algumas semanas antes. Na verdade, uma festa onde eu e minha prima C produzimos para celebrar um novo ano e um futuro que nem sabíamos por onde ia andar. Tínhamos filhos para criar e todos os desejos de jovens mulheres abandonadas pós maternidade.  Queríamos muito nos festejar e resolvemos comemorar nosso aniversário com uma festa na véspera do ano novo.  Compramos vestidos iguais, o meu vermelho o dela roxo, e sandálias com saltos altíssimos em prata e dourado. Não existia cartão de crédito, pagamos em prestações em uma loja super chic pois nosso cacife era pequeno. Apesar da falta de prática em produção, os moveis do meu apartamento recém alugado na Voluntários da Pátria foram desmontados e guardados no quarto de empregada.  Sala e dois quartos para os muitos convidados que podiam se espalhar em almofadas enormes e alguns estrados com colchão substituindo o que seria um sofá.  Publicitários, jornalistas, poetas, empresários, enfim, um grupo de peso. Whisky a rodo, um espaguete na madrugada, e antes de me recolher anunciei: o último que sair fecha a porta e joga a chave por baixo. Surpresa ao amanhecer e encontrar dois casais que por lá dormiram e civilizadamente conversavam no preparo do café da manhã como se tudo fosse muito normal, apesar de sabermos que tinham chegado à festa com outros pares. Os tempos eram assim…

E foi neste clima do meu primeiro verão como mãe e sem marido, me reinventando para um futuro que não tinha ideia como seria, que Carlos Imperial telefonou convidando para a grande noite do “Plá do Imperial”. Um parêntese sobre o Imperial:  eu o conheci na TV Continental onde era secretária do Eli Halfoun, assessor de imprensa da emissora que estava com nova direção. Havia um programa de entrevistas no fim da noite apresentado por Fernando Lobo e Haroldo Costa, e eu adorava ficar até tarde ajudando na produção, e Imperial foi um dos entrevistados. Da Continental convidada por Moyses Fuks, fui trabalhar na Bloch Editores onde preparavam equipe para uma revista sobre TV, celebridades e ainda tinha fotonovela! Antes da revista Amiga existir eu já estava lá acompanhando a criação do projeto editorialmente novo inspirada em uma publicação italiana. Até o nome era igual.  A revista foi para as bancas e com alguns meses na estrada, creio que foi o Moyses Weltman, diretor da revista, ou foi o Fuks , que convidou o Imperial para assinar uma coluna. Produtor, compositor, criativo, mas vamos combinar que não era jornalista… E me lembro perfeitamente das primeiras colunas onde muitos palpitavam, incluindo eu…. Passávamos noites deliciosas rindo com as loucuras do Imperial.

E aí a coluna fez um grande sucesso… Provocador, debochado, engraçado foi conquistando admiradores e claro que criando também inimizades. Sem meias-palavras, colocando apelidos em muitos artistas e muito bem informado, para pontuar ainda mais seu espaço na mídia, criou um prêmio: o “Plá do Imperial”. Um medalhão dourado que anualmente entregava às pessoas que considerava terem bom humor para conduzir a vida e a arte. Assim como ele….

Não tinha como perder a festa que prometia ser a mais animada daquele verão e ainda por cima acontecendo no bar e restaurante Berro D´Agua, um dos visuais mais lindos da cidade, apesar de instalado nas obras inacabadas do Panorama Palace Hotel, entre os morros do Cantagalo e Pavão. Com o capricho do cabelo e maquiagem, vestido vermelho, fui sem imaginar que seria homenageada. Fui pela noite que prometia ser divertida, convites disputados aos tapas e a presença da fina flor do mundo artístico. E, surpreendentemente, quando Imperial anunciou os premiados lá estava eu…. Não sei se fiz algo tão importante naquele ano para merecer o prêmio, mas ele sabia dos meus desafios e resolveu levantar a minha moral.  E cada vez que vejo esta foto e os que me cercam, tenho orgulho de ter participado desta geração com Chico Anisio, Milton Moraes, Jorge Doria, Paulo Pontes, Plínio Marcos, Juca de Oliveira, Tetê Nahaz, Fernanda Montenegro, Terezinha Sodré e Cidinha Campos a caminhada não tem sido em vão. Valeu Imperial….

Na foto abaixo, boas memorias do meu gordo amigo, cercada por Ana Maria Farias, Ewaldo Lemos, Leda Nagle, Jalusa Barcelos e Tetê Nahaz.

Image may be NSFW.
Clik here to view.
Esq p dir AnaMariaFaria_EvaldoLemos_LedaNagle_CarlosImperial_JalusaBarcelos_TetêNahaz


Arquivado em:Uncategorized Image may be NSFW.
Clik here to view.
Image may be NSFW.
Clik here to view.

Viewing latest article 2
Browse Latest Browse All 2